"Hábitos de sono e rendimento escolar" de Armanda Zenhas
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É olhar com atenção para as cabeças dos alunos de todas as idades logo pela manhã ou então mais para o fim da tarde. Muitas cabeceiam; muitos olhos piscam continuamente tentando não se fechar; alguns olhos não resistem e as cabeças pousam sobre as mesas, num sono extemporâneo. Como pode haver atenção e concentração nas aulas e nas tarefas? Como se pode aprender quando o corpo pede descanso? Experimente-se, então, perguntar a esses alunos a que horas se deitaram. Alunos de 10 ou 11 anos consideram ultrajante a opinião dos professores de que ir para a cama às 23h é demasiado tarde para jovens da idade deles, que têm de se levantar cedo no dia seguinte. "Não tenho de ir para a cama a essas horas." e, como o Calvin, se os pais tentam impedi-los, certamente o imitarão, respondendo "Não tenho de ir para a cama! Não tenho de fazer o que dizes!" Levar os filhos a cumprirem regras não é fácil, seja em que idade for. O certo é que, quanto mais tarde se tentar pôr ordem na casa, mais difícil será consegui-lo. Como "De pequenino se torce o pepino", é também desde cedo que, entre outras regras, devem existir algumas respeitantes às horas de sono. A hora de deitar pode ser mais flexível durante as férias e à 6ª feira e sábado. No entanto, durante o tempo de aulas é fundamental que a criança ou o jovem durma o número de horas adequado à sua idade, pelo que deve deitar-se cedo. Alguns alunos contrapõem que só têm aulas de tarde e, por isso, podem deitar-se tarde e ficar a dormir toda a manhã. Agora pergunto eu: e quando estudam esses alunos? Claro que se têm aulas de tarde, precisam de dedicar algum tempo das suas manhãs ao estudo autónomo. Muitos estudos relacionaram já o tempo de sono com os resultados escolares, chegando à conclusão de que estes são afetados negativamente por um tempo de sono insuficiente. Cansaço, irritação, sonolência, dificuldade de concentração são alguns dos sintomas que se notam em quem dorme pouco e que inibem a sua disponibilidade para a aprendizagem. Ainda me lembro dos tempos da minha adolescência em que pretendia prolongar um pouco mais as minhas horas de vigília escondendo um livro debaixo dos cobertores e lendo-os com uma lanterna. A infração não durava muito, pois o desconforto da situação não ajudava. Os tempos mudaram e hoje a maior parte das crianças e dos jovens, desde muito novos, tem nos seus quartos uma televisão e até um computador, que lhes permitem fugir facilmente à vigilância dos pais, que parecem acreditar que os filhos, quando vão para o quarto, vão mesmo para a cama. A existência destes aparelhos no quarto, além de dificultar ou impedir o controlo das horas de sono das crianças, impede também o controlo da qualidade dos programas que elas veem ou da utilização que fazem da Internet ou de outros recursos do computador. Definir regras e fazê-las cumprir é uma tarefa árdua para qualquer educador. Ela deve ser feita com base na negociação, mas esta não implica abdicação dos princípios fundamentais em causa. Implica, contudo, firmeza, o que traz associado a resistência à chantagem, às birras e a outras estratégias que as crianças e os jovens sabem utilizar com tanta mestria. Outro ingrediente importante é a flexibilidade, atendendo às especificidades de cada situação. Para uma mesma criança, as regras terão também de ser adaptadas, para que não se caia no excesso em que o Calvin se encontra de apenas poder ver modificada a hora de ir para a cama (19h30) quando tiver 18 anos. |